terça-feira, 12 de outubro de 2010


As gaivotas da manhã acordaram-me. O canto
é delas ou foi recolhido
nas águas? Um raio
de sol atravessa o quarto e trepa hesitante
pela cama; deita-se conosco
como se fosse um gato. Estendo a árvore
flexível do corpo
e penso como é bom esquecer-me da idade
e dos outros e do mundo
que felizmente se esquece muitas vezes
de mim. Não sei de que lado estou se
me deitei
à direita ou à esquerda
da minha amiga. Agrada-me
o rumor dela
quando se aconchega ao meu corpo
sem ter ouvido ainda o piar das gaivotas
nem as patas perfumadas do sola nosso lado.
.
Casimiro de Brito
In "Opus Affettuoso"

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