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A tinta e a lápis
Escrevem-se todos
Os versos do mundo.
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Que monstros existem
Nadando no poço
Negro e fecundo?
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Que outros deslizam
Largando o carvão
De seus ossos?
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Como o ser vivo
Que é um verso,
Um organismo
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Com sangue e sopro,
Pode brotar
De germes mortos?
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O papel nem sempre
É branco como
A primeira manhã.
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É muitas vezes
O pardo e pobre
Papel de embrulho;
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É de outras vezes
De carta aérea,
Leve de nuvem.
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Mas é no papel,
No branco asséptico,
Que o verso rebenta.
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Como um ser vivo
Pode brotar
De um chão mineral?
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João Cabral de Melo Neto
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