sábado, 5 de junho de 2010


O POEMA
.
A tinta e a lápis
Escrevem-se todos
Os versos do mundo.
.
Que monstros existem
Nadando no poço
Negro e fecundo?
.
Que outros deslizam
Largando o carvão
De seus ossos?
.
Como o ser vivo
Que é um verso,
Um organismo
.
Com sangue e sopro,
Pode brotar
De germes mortos?
.
O papel nem sempre
É branco como
A primeira manhã.
.
É muitas vezes
O pardo e pobre
Papel de embrulho;
.
É de outras vezes
De carta aérea,
Leve de nuvem.
.
Mas é no papel,
No branco asséptico,
Que o verso rebenta.
.
Como um ser vivo
Pode brotar
De um chão mineral?
.
João Cabral de Melo Neto

Nenhum comentário:

Postar um comentário